Barbie Zelizer apresenta na Católica investigação sobre a influência da Guerra Fria no jornalismo
“Quando falamos de jornalismo, pensamos normalmente no presente: manchetes, furos, notícias de última hora, mas o jornalismo é também sobre o passado.” Foi com estas palavras que Barbie Zelizer, especialista em estudos de jornalismo, iniciou a conferência intitulada “When the Past Drives the News, and Why We Should Care”, na Sede da Universidade Católica Portuguesa, um dia antes de ser agraciada com um Doutoramento Honoris Causa pela universidade.
Diretora do Center for Media at Risk na Annenberg School for Communication, na Universidade da Pensilvânia, Barbie Zelizer é uma investigadora galardoada na área do jornalismo, especialista em crises, cultura, memória e imagens. É co-fundadora da Lisbon Winter School for the Study of Communication, da Faculdade de Ciências Humanas (FCH). “Já publicou e editou mais de 15 livros, incluindo vários vencedores de prémios, e mais de 150 artigos, capítulos de livros e ensaios”, explicou Nelson Ribeiro, Diretor da FCH.
“O seu mais recente livro, The Journalism Manifesto, do qual é coautora, explica, brilhantemente, algumas mudanças que o jornalismo tem de fazer, se quiser continuar a ser um pilar da democracia”, acrescentou o Diretor.
O próximo livro, que está agora a terminar, vai dedicar-se à Guerra Fria e ao modo como influencia o jornalismo, nos dias de hoje. Um tema que escolheu apresentar na conferência, partilhando a pesquisa que tem vindo a desenvolver.
“Decidi trazer o meu projeto sobre a Guerra Fria, porque comecei a pensar neste tema nos meus primeiros dias na Católica. Lembro-me de vir a várias conferências e de a Guerra Fria permear completamente o meu pensamento”, partilhou Barbie Zelizer, acrescentando que consolidou o pensamento sobre este tema “graças à Católica e a esta colaboração.”
“A relevância crescente da Guerra Fria intensificou-se sem comparação, e é mais relevante agora do que quando comecei a minha investigação”, explicou, destacando também o recente conflito entre a Rússia e a Ucrânia. “Tornou-se claro que pensamentos do passado viajam de formas imprevisíveis, por diferentes geografias, pois aquilo que começou nos Estados Unidos, espalhou-se para outros locais”, esclareceu.
Zelizer olha para o passado para entender o jornalismo atual. “Não me refiro apenas a arquivos de notícias, mas especialmente às rotinas dos jornalistas, às regras, ao uso das imagens, à fórmula de contar histórias. A tomada de decisões no jornalismo vem do passado, simplifica a maneira como os jornalistas escrevem notícias, assinalando as práticas que resultam ou não”, defende.
A pesquisa apresentada na conferência concentrou-se “numa das formas como o passado orienta as notícias, oferecendo simultaneamente um modo de compreender o mundo e, no caso dos jornalistas, um modo de entender o que é digno de noticiar e o que não é.” A especialista refere-se ao pensamento que remonta à Guerra Fria, e descreve-o como “uma mentalidade que continua a assombrar o jornalismo americano, hoje tanto como anteriormente.”
O trabalho de Barbie Zelizer tem vindo a ser reconhecido com vários prémios e distinções, como a eleição para as Academias Americana e Britânica de Artes e Ciências. Pelo seu contributo na área das Ciências Sociais, a Universidade Católica Portuguesa vai distinguir, no dia 2 de fevereiro, a investigadora com o grau de Doutora Honoris Causa.