Paulo Cardoso do Amaral: "Zuckerberg e o vil metal: o lado bom"
Depois do desastroso início de projecto Libra, no ano passado, o facebook veio tentar emendar a mão, corrigindo o seu white paper no passado dia 16, e chamando-lhe agora “payment system”.
Pois parece que andou a falar com os reguladores, apresentou até um relatório do G7 favorável a stable coins, e acabou a propor recentemente uma espécie de sistema de pagamentos suportado por uma espécie de blockChain e com um cabaz de stable coins, incluindo a sua própria criptomoeda, a Libra. Tudo porque há muitas pessoas no mundo sem capacidade para movimentar o seu dinheiro, numa altura onde a comunicação liberalizada de dados multimédia passou a ser a norma para tudo, exceto para os pagamentos. Tudo muito meritório. Ler o white paper da Libra é acreditar que é tudo sem fins lucrativos, tudo muito seguro, e para nos ajudar a todos.
A verdade é que não se percebe porque é que o facebook está há cinco anos a complicar o que é simples. Eu explico.
Há 4 anos, o facebook obteve uma licença para operar sistemas de pagamentos no espaço SEPA, a partir da Irlanda. Na mesma altura, tinha metido na cabeça que o seu Messenger seria a forma de passar do simples portal de consumo de conteúdos que todos conhecemos, para a comunicação móvel em tempo real, com a vantagem de poder ganhar uma comissão algures. Não funcionou. Felizmente, como teve o bom senso de comprar o whatsapp, em Dezembro de 2018 avançou, a partir da Índia, com o “roll out” de uma funcionalidade chamada “whatsapp pay”, que é uma espécie de uma wallet. Ficou pelo caminho. E em Abril de 2019 anunciou a Libra com pompa e circunstância, com o apoio da Visa e da Paypal entre quase três dezenas de outras empresas. Mas nem todos foram na cantiga na altura. Depois, lá para Setembro do mesmo ano, a Visa e a Paypal abandonaram o projecto…
Quatro anos a complicar o que é simples é uma eternidade, até porque empresas como a Revolut ou o N26 aproveitaram para oferecer wallets em várias moedas e proporcionam pagamentos internacionais instantâneos grátis, e da forma mais simples do mundo. A China, em particular, já faz isso à escala nacional e também em alguns países asiáticos num ecossistema que cruza o sistema bancário, por oposição às soluções ocidentais onde as Revoluts da vida têm de lutar para montar as suas próprias redes. O mesmo se pode dizer os m-pesa em África. Portanto, a pergunta a fazer ao facebook é, porque não faz o mesmo, ou, pelo menos, porque não começa simples?
Mas há um lado bom. A tecnologia por detrás da Libra é interessante. A utilização da criptografia e uma estrutura tipo blockChain (na verdade é uma blockTree) permite criar uma plataforma de funcionamento independente e confiável.
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