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"O problema desta crise são os Estados-membros, não é Bruxelas"

Sócio-gerente da Eupportunity admite que "se a UE não servir para responder a este desafio, se não descobrir um interesse comum", pode acabar.

Henrique Burnay, sócio-gerente da Eupportunity e professor convidado no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, onde leciona Políticas Públicas Europeias, e na Escola de Negócios do Porto da Universidade do Porto, onde leciona Lobby, fala ao Dinheiro Vivo sobre o comportamento das instituições europeias na pandemia de covid-19. Diz que são “os Estados-membros, não é Bruxelas (no sentido Comissão Europeia), que têm de decidir medidas extraordinárias e outra forma de cooperação e coordenação”. Admite que a Comissão foi lenta a reagir na primeira fase da doença mas garante que, contra os efeitos económicos da covid-19, “não haverá partilha de risco sem condicionalidades”.

Como tem sido visto por dentro o comportamento e processo de tomada de decisões de Bruxelas nesta pandemia?

Uma crise desta envergadura pede respostas que vão para além daquilo que as instituições estão preparadas e habilitadas. São os Estados-membros, não é Bruxelas (no sentido Comissão Europeia), que têm de decidir medidas extraordinárias e outra forma de cooperação e coordenação. Esta crise é, primeiro, uma crise sobre os sistemas de saúde, que pede uma resposta sanitária e, subsequentemente, uma crise económica que está e vai exigir um enorme esforço financeiro público. Em ambos os casos, o que está em causa são questões primeiramente nacionais. A resposta europeia, mesmo fazendo uso de instrumentos existentes ou novos, tem de ser uma decisão dos Estados-membros, não da Comissão. Apesar do que se tinha passado em Itália, e antes na China, houve pouca inteligência e informação partilhadas e pouca preparação. Nisso, a Comissão Europeia foi lenta a reagir na fase inicial, a antecipar. Mas também os Estados membros foram. O problema europeu desta crise são os Estados-membros, não é Bruxelas.

A discussão sobre os coronabonds tem sido repetida e parece agora ter-se chegado à conclusão de que não são adequados a esta crise. Que instrumentos deviam e podiam ser utilizados a nível europeu?

A discussão sobre os coronabonds (que só diferem dos eurobonds por, eventualmente, serem especificamente para uma resposta às necessidades próprias desta crise) não é nova. No essencial, resume-se a saber se os diferentes Estados-membros estão disponíveis para mutualizar dívida. Como é compreensível, para os Estados com maior dificuldade de acesso ao crédito a baixo custo (seja por terem uma grande dívida seja por (também normalmente) terem juros mais elevados, a ideia é atrativa. Para os que têm saldos positivos, e/ou acesso mais fácil ao crédito, a questão está em aceitarem pagar mais e correr um risco maior, conjunto. Não é, pois, de estranhar que esta tensão exista. Neste momento, a discussão já é menos sobre a necessidade de instrumentos financeiros europeus, e mais sobre que tipo de instrumentos usar. Coronabonds? O Mecanismo de Estabilidade Europeu (o nosso FMI)? Um acréscimo ao orçamento da Comissão Europeia? Um fundo extraordinário? Uma mistura de todos estes? O que parece antecipável é que não haverá partilha de risco sem condicionalidades. Pode ser usando o Semestre Europeu, critérios para o uso de fundos comunitários ou gestão comum da dívida emitida em comum, mas alguma forma de condicionalidade haverá.

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Bioética

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Artes Humanidades e Ciências Sociais

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Mestrado

Instituto de Bioética

O Instituto de Bioética (IB) foi criado pelo Conselho Superior da Universidade Católica Portuguesa, em Julho de 2002, com o compromisso de alargar e adaptar o trabalho de investigação em Bioética aos novos desenvolvimentos da ciência e da tecnologia.

Arte - Conservação e Restauro

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Saúde e Tecnologia

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Licenciatura

Escola das Artes

A Escola das Artes do Porto é direcionada a todos aqueles que se interessem pelo património artístico e cultural antigo e contemporâneo, por uma formação diversificada teórico-prática, que tenham espírito curioso e aberto à investigação e gosto pela resolução de problemas.

Magda Ferro: "O Covid-19 e a internacionalização das Universidades"

No início de março de 2020, as Instituições de Ensino Superior (IES) portuguesas, confrontadas com o número crescente de casos COVID-19, tomaram a decisão de encerrar as suas portas físicas. No dia seguinte, a grande maioria destas Instituições abria as suas portas virtuais e disponibilizava aos seus estudantes aulas online, à distância. Através desta solução, os docentes puderam continuar as suas atividades letivas e os estudantes a assistir às aulas sem que nenhum dos grupos colocasse a sua saúde em risco. No caso da Instituição onde trabalho, a implementação do sistema de lecionação online foi um processo suave, pois há já algum tempo que a infraestrutura tecnológica de suporte estava montada.

Simultaneamente, os colaboradores não docentes continuaram a trabalhar remotamente, a partir das suas casas, sem que até ao momento se tenham sentido limitações significativas no que respeita à agilidade e eficiência dos processos. No caso particular do International Office (onde trabalho), a diferença foi realmente pequena. Usualmente, os nossos interlocutores já estão dispersos pelo mundo, a muitos milhares de quilómetros dos nossos gabinetes. Na nossa vida “sem-COVID-19”, ferramentas como o Zoom, Skype, Teams, etc., já faziam parte das nossas rotinas. O COVID-19 pouco mudou a nossa vida no trabalho.

Como se pode observar pelo acima descrito, a digitalização não é um tema novo para as Universidades. Há já vários anos que se assiste a uma tendência de digitalização no que respeita à oferta de formação superior online. Desde 2012 que Universidades como Harvard ou MIT, têm vindo a disponibilizar “Massive Open Online Courses” (MOOC’s), isto é, programas académicos que são oferecidos através da internet. Harvard e MIT chegaram a juntar-se para criar uma empresa (a EDx) especifica para oferta de MOOC’s. Esta empresa foi criada num contexto de mudança significativa no que respeita ao crescimento da adoção social das tecnologias da Internet, especialmente nos países economicamente mais desenvolvidos, mas também em países com economias emergentes, onde a oferta ao nível do ensino superior é insuficiente para dar resposta à procura cada vez maior por parte das populações locais.

Em 2018, de acordo com a publicação “Inside Higher Ed”, o número e a proporção de estudantes de ensino superior que frequentaram aulas on-line cresceu consistentemente em 2017, ao mesmo tempo que se verificava a queda geral no número de estudantes no ensino secundário. Em 2018, um terço de todos os alunos nos EUA frequentava pelo menos um curso on-line.

Entretanto, estamos em 2020. À semelhança dos processos de digitalização, os processos de internacionalização são cada vez mais importantes e transversais nas IES. Curiosamente, digitalização e internacionalização têm-se desenvolvido nestas instituições de forma paralela sem se chegarem a cruzar.

E é neste contexto que chega um vírus que nos obriga a ficar em casa.

Numa primeira abordagem, o COVID-19, ao implicar a imobilidade das pessoas, poderá ser visto como uma enorme ameaça ao processo de Internacionalização das Universidades. Será mesmo assim?

Todos sabemos que os maiores desafios costumam ser também as maiores oportunidades. E, o COVID-19, ao obrigar as Universidades a mudarem provisoriamente a forma como fazem as coisas, como trabalham e como oferecem os seus serviços, constitui-se como uma enorme oportunidade de transformação para as mesmas. Uma transformação digital que se vem anunciando, mas que nunca se concretizou. Provavelmente porque nunca fez falta. E porque há sempre poucos recursos e muitas necessidades. E uma transformação como esta irá obrigar as pessoas que trabalham nas Universidades a saírem das suas zonas de conforto. E por tudo isto, as Universidades foram adiando algo que o COVID-19 veio mostrar ser um imperativo. A epidemia do COVID-19, fruto de um mundo globalizado, exige respostas tecnológicas.

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Mais de 70% dos portugueses têm medo de ir aos hospitais e centros de saúde

As salas de espera vazias tornaram-se um denominador comum a hospitais, centros de saúde e consultórios médicos. Por causa do coronavírus, 74% dos portugueses estão com medo de se deslocar aos serviços de saúde, segundo um inquérito do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica. Pior do que isso, 26% dos inquiridos dizem mesmo que, por causa do novo coronavírus, deixaram de recorrer aos serviços médicos.

Esta falta de comparência tanto pode ter sido motivada pelo medo como pelo adiamento de exames, consultas ou intervenções – a terceira e última parte deste inquérito feito para o PÚBLICO e RTP e que se baseia em perguntas feitas a 1700 pessoas, numa amostra representativa da população, entre os dias 6 e 9 de Abril, não escrutina as razões. Mas permite verificar que, entre as pessoas que dizem pertencer a grupos de risco, sobem para 32% os que deixaram de recorrer ao médico.

Esta debandada ocorre na mesma altura em que 23% da população assume que o seu estado geral de saúde física está pior do que antes da crise sanitária as ter fechado em casa. E, ao contrário do que se poderia pensar, não são os mais idosos a declarar sentirem-se pior do que antes. É entre os jovens com idades entre os 18 e os 24 anos que se concentra a maior percentagem (33%) dos que acusam a deterioração do seu estado de saúde. Nos que têm 65 ou mais anos de idade, refira-se, a proporção desce para os 17%.

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Gestão de Indústrias Criativas

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Artes Humanidades e Ciências Sociais

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Mestrado

Escola das Artes

A Escola das Artes do Porto é direcionada a todos aqueles que se interessem pelo património artístico e cultural antigo e contemporâneo, por uma formação diversificada teórico-prática, que tenham espírito curioso e aberto à investigação e gosto pela resolução de problemas.

Inquérito indica que queda de rendimentos é mais sentida nos que ganham até mil euros mensais

Nas famílias que ganham até 1.000 euros, 43% registaram quebra de rendimentos desde que a covid-19 colocou o país em quarentena, valor que supera a média global de 36,8% destas situações, indica um estudo da Universidade Católica Portuguesa.

De acordo com o estudo, 36,8% dos inquiridos reportou ter registado quebra no rendimento do agregado familiar, seja porque foi colocado em ‘lay-off’, ficou se emprego ou se mantém em atividade, mas a receber menos. Estas médias globais têm por trás realidade diferentes, já que a quebra de rendimentos atingiu mais os agregados que contam com até 1.000 euros mensais, sendo quase 43% os que referiram esta situação.

Já entre os que recebem entre 1.001 e 2.500 euros mensais este problema afetou 32,6% e em relação aos que recebem por mês mais de 2.501 euros, a quebra de rendimentos foi uma realidade para pouco mais de um quinto (23,4%).

Estes resultados levaram Ricardo Reis, Professor na Universidade Católica e que apresentou o estudo durante uma conferência virtual, a assinalar a “discrepância enorme com o que está a acontecer na população” e a classificar esta crise como desigual por estar “a afetar as camadas mais pobres da população”.

Ainda que sejam uma minoria, há 0,6% de pessoas que registaram uma subida dos rendimentos desde que o país entrou em estado de emergência e muitas das atividades económicas foram canceladas total ou parcialmente.

O estudo mostra também que o impacto das medidas de luta contra o surto de covid-19 foi mais sentido entre os empresários em nome individual e trabalhadores por conta própria, onde a quebra de rendimentos chegou a 71,7%. Nos trabalhadores por conta de outrem, este problema atingiu 41,4%.

A quebra de rendimentos afetou também de forma diferentes os setores público e privado, sendo este um problema reportado por 31,3% dos trabalhadores do público e por 52% dos do privado.

A nível regional também se registam diferenças com o Norte a surgir com a maior fatia dos inquiridos (39%) a quem a crise causada pela covid-19 já implicou quebras no rendimento. Seguem-se Lisboa, com 35,9%, e o Centro, com 34,7%.

Estes resultados refletem o facto de também ser nestas regiões que se registam mais casos de ‘lay-off’ ou de pessoas que reportaram estar sem atividade e menores rendimentos. Em termos gerais, foram 13,4% os inquiridos que disseram estar em ‘lay-off’, sendo que em termos regionais, o Norte surge acima desta média, com 17,8% dos inquiridos nesta situação.

Já em relação aos que estão sem trabalhar e tiveram quebra de rendimentos, as repostas globais apontam para um universo de 14,4%, com o Centro a registar 17,7%, o Norte quase 13% e Lisboa 12,5%.

O inquérito permitiu ainda concluir que 6% dos inquiridos estavam em casa sem trabalhar mas sem que isso se tivesse repercutido no seu rendimento. Para Filipe Santos, outros dos oradores da conferência de apresentação do estudo “Covid-19 e os portugueses”, estas pessoas têm quase que uma “obrigação que partilhar o rendimento que conseguiram manter” para com aqueles que “viram a sua vida destroçada por esta crise”, sendo esta uma forma de evitar que a economia tenha um nível de destruição não necessário.

É que, entre as profissões que registam níveis mais elevados de quebra de rendimento estão as relacionadas com o alojamento e restauração e o comércio a retalho, mas também as atividades domésticas, outras atividades de serviços, transportes ou espetáculos.

As medidas de isolamento social levaram a um incremento do teletrabalho, mas entre os inquiridos a maior parte (35,5%) revelou que, em abril, continuou a trabalhar no local habitual, ou seja, sem alterações face ao período pré-covid-19. Já o teletrabalho passou a ser uma realidade para 23,2% dos inquiridos, com a esmagadora maioria (quase 85%) a referir que está a ser uma experiência positiva, em termos de equipamento, ambientais e apoio das empresas.

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Vânia Sousa Lima - "Afinal havia o Outro"

O vírus virou-nos. Do avesso, primeiro. Para dentro, crê-se. Para fora, sabe-se.

Como tempestade que se antecipa, distante, e se deseja não chegue. E antes que fosse dito, era claro que chegaria. Dela ouvia-se falar do seu devastador e nefasto poder.

A palavra cria realidade e as que mais se ouviam eram infecção, doença, morte, crise, quarentena, confinamento, isolamento. E números, muitos (dúbios) números. Faz-se real o risco de ser infectado, real o de perder o emprego, real o de não pagar salários, real o de cancelar projectos, real o de não fruir do desejado, do assumido como garantido, real o de adoecer, real o de morrer. Real o risco de não ser capaz de (se) suplantar.

O entranhar-se do medo revira as entranhas, tolda a razão, turva a emoção, entorpece a acção. O medo do vírus virou-nos, do avesso, primeiro. Para dentro, crê-se. Na procura da garantia da satisfação das mais primárias necessidades de sobrevivência e segurança, as de Maslow. Para dentro de supermercados, farmácias, hospitais, centros de saúde, (mãos) dentro de luvas, dentro de casas. Antes que nos fosse dito. Para dentro de nós e do nosso medo. Crê-se.

O risco é universal como o medo. Ambos nos fazem pessoas. Como, ante eles, a resiliência e a estoicidade. Sabe-se.

A construção relacional do significado evidencia o carácter falacioso do desenvolvimento individual. A história de Mim exige o Outro. Este Outro, história nossa, a quem se quer bem e com quem não se está (por tanto se querer bem não se está). Com quem se quer festejar o aniversário e não se visita. A quem se quer dar um abraço e se vê da janela. Com quem se partilharia uma Páscoa que se reinventa.

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